“Jovem
da roça também tem valor!” (Grito da PJR desde 1985.)
Nasci
na roça, no campo. Fiz muitos calos nas mãos no cabo da enxada tocando roça à
meia ao lado do papai José Moreira. Na hora da colheita, quando via o
fazendeiro levar no caminhão a metade da nossa safra e quase toda a outra
metade também, porque contraíamos dívida na sede da fazenda onde comprávamos,
do plantio à colheita, açúcar, café, sal, remédios etc, dentro de mim, ainda
criança, gritava uma voz: “Deus não quer isso. Isso não é justo.” Trago na
minha memória essa indignação diante da opressão do latifúndio e dos
latifundiários. Saí da roça, mas a roça não saiu de mim. Meu sacerdócio e meu
jeito de ser frade carmelita estão intimamente conectados com a luta dos
camponeses por terra, pão e dignidade.
O
III Congresso da Pastoral da Juventude Rural (PJR – www.pjr.org.br), em Recife,
PE, de 14 a 19 de janeiro de 2014, reuniu mais de 1.500 jovens camponeses de
todo o Brasil. Além das reflexões, troca de experiência, convivência, noites
culturais etc, foi momento propício também para beber da herança espiritual
profética de frei Caneca, padre Ibiapina, Padre Cícero, beato Zé Lourenço,
padre Henrique, frei Jessé, Dom Hélder Câmara, Francisco Julião, cacique Chicão
Xucuru, dentre tantos outros lutadores do povo. Frei Jessé e padre Henrique
foram homenageados. Frei Cícero dos Santos Jessé (1954 a 1995), uma vida a
serviço da Juventude Camponesa. Frei Jessé foi assessor da PJR por vários anos.
Ao adoecer dizia: “Não deixem de fazer nada porque estou ausente.” Padre
Antonio Henrique Pereira Neto (1940 a 1969), mártir da juventude que ousa viver
a sua fé no mundo. Chamado por dom Hélder, padre Henrique, além de secretário
do Dom, foi também assessor da Juventude. Chamado de subversivo, em 26 de maio
de 1969, foi torturado e assassinado pela ditadura civil-empresarial-militar.
Antes de completar 29 anos tombou por sua opção pelos pobres e pelos jovens,
mas frei Jessé e padre Henrique, assim como todos os mártires da caminhada,
continuam conosco, presente, presente, presente.
A
cidade de Recife nos convida a recordar: a) frei Caneca, o carmelita da Confederação
do Equador, fuzilado dia 13 de janeiro de 1824, após ter sido preso em 1817 e
ter ficado vários anos no cárcere, em Salvador, Bahia. Frei Caneca, ao lado de
outros 50 padres, esteve à frente da Confederação do Equador que lutava pela
independência do Pernambuco, contra a violência da monarquia. Lutava por vida e
liberdade para todos; b) Dom Hélder Câmara, o dom do amor, da paz e da justiça;
d) Pernambuco também foi palco das Ligas Camponesas que, sob a liderança de
tantos como o advogado Francisco Julião, se espalharam pelo país, com mais de
2.000 já organizadas quando se instaurou a ditadura. As Ligas camponesas
lutando por reforma agrária na lei ou na marra.
Confira os detalhes no site da PJR : www.pjr.org.br
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